A furadeira

Era sábado de manhã e eu estava com o dia cheio, meu filho e nora vinham passar o final de semana comigo e eu ainda não tinha ido ao mercado para buscar os ingredientes do cardápio planejado. Minha cabeça a mil quando o interfone toca. Era a portaria:
06 de novembro 2020 | Atualizado em 12 de julho 2024

Era sábado de manhã e eu estava com o dia cheio, meu filho e nora vinham passar o final de semana comigo e eu ainda não tinha ido ao mercado para buscar os ingredientes do cardápio planejado. Minha cabeça a mil quando o interfone toca. Era a portaria:

- Dona Maria, tem um prestador de serviço que quer ir na cobertura, disse que não vai fazer barulho, é só colocar alguns quadros nas paredes, mas ele está com uma furadeira na mão.

Não vai fazer barulho... sei! Nunca vi furadeira com silenciador.

A regra é clara e a única exceção para obras ou coisas do tipo no final de semana é para casos de urgência, como vazamentos hidráulicos ou situações elétricas essenciais. Internet também já é considerado essencial, coisas do mundo conectado que criamos, enfim. Não entendi o porquê do Valdir estar me incomodando com isso.

- Ela me descarregou um caminhão de insultos Dona Maria, disse até que vai sair com o carro e colocar o rapaz no carro dela pra ele poder entrar no condomínio.

Lembrei quem era a condômina. Infelizmente era o perfil da pessoa. Geralmente quem tem esse perfil acredita que pode dar um jeitinho em tudo para ser favorecida, mas é a primeira a reclamar caso o vizinho burle alguma regra. Essas pessoas são incapazes de se colocar no lugar do outro. Imagina que desagradável para qualquer morador que decida dormir um pouco mais no sábado de manhã e ser acordado com uma furadeira, em pleno dia de descanso.

Não tive escolha, mantive a proibição e ficamos observando se a moradora da cobertura iria mesmo cumprir com a ameaça.

Não deu outra. Ela saiu com o carro, o rapaz entrou com sua caixa de ferramentas e furadeira em punho, ela deu a volta na quadra e retornou entrando na garagem tranquilamente.

Com notificação pronta, toquei a campainha quinze minutos depois, mas ela nem ouviu, pois a furadeira estava a todo vapor. Insisti e aguardei. Depois de mais barulho e mais quinze minutos ela abriu. Assinou a notificação e deu de ombros, o serviço pelo menos estava feito. Nesse meio tempo, o interfone da portaria tocou meia dúzia de vezes com reclamação dos vizinhos devido ao barulho. Com isso, e devido a ela ter sido orientada que não seria permitido e mesmo assim ter feito, a notificação foi convertida em multa e voltei lá pra informá-la, pois assim prevê nosso Regimento. Ela não gostou nenhum pouco, afinal os quadros acabaram ficando mais caros do que ela imaginava, por pura teimosia.

Eu não ia mais ter tempo hábil de preparar o bolo que tinha planejado para receber minhas visitas. Tive que comprar um bolo pronto. Vontade de mandar a conta pra ela.

Martinha Silva é escritora, graduada em Administração, especialista em Gestão de Pessoas e gestora condominial em Itajaí.

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