Demolição

Já sou síndica há tanto tempo e só não estou careca de saber das minhas responsabilidades, porque cuido muito bem das minhas madeixas. O fato é que como síndica, tenho claras minhas atribuições, no entanto, nosso condomínio com quase duzentas unidades, têm inúmeros moradores que, na ânsia de ajudar – prefiro acreditar que seja isso – se atravessam em cada situação, dificultando o desenrolar das coisas.
26 de maio 2020 | Atualizado em 12 de julho 2024

Já sou síndica há tanto tempo e só não estou careca de saber das minhas responsabilidades, porque cuido muito bem das minhas madeixas. O fato é que como síndica, tenho claras minhas atribuições, no entanto, nosso condomínio com quase duzentas unidades, têm inúmeros moradores que, na ânsia de ajudar – prefiro acreditar que seja isso – se atravessam em cada situação, dificultando o desenrolar das coisas.

Vou explicar o motivo do meu desabafo: um vizinho de muro do condomínio, teve que demolir um pequena edificação para no lugar construir um novo prédio. Dias antes um responsável pela obra me procurou, apresentou-se como engenheiro da construtora e me informou que estava fazendo um laudo antes de iniciar a demolição e a obra do novo prédio. Fotografou nossas dependências e me explicou como seria. Na semana seguinte recebi o laudo muito bem explicadinho. Esse documento os estava resguardando e a nós também. Qualquer resultado como rachaduras ou coisa pior, seria assumida por eles.

No início da semana recebi uma cópia do alvará autorizando a demolição e ontem teve início o serviço do pessoal, retroescavadeira, pó e barulho. Eu estive na nossa área de jardim que faz divisa com o local da obra e observei que foram colocados os tapumes sobre o muro, mas mesmo assim levantavam nuvens de poeira cada vez que o braço feroz da retroescavadeira punha abaixo uma parede. Caiam pequenos estilhaços e entulhos no nosso jardim, que estava isolado.

Como eu tinha mais o que fazer, deixei os especialistas trabalhando e fui cuidar de outros assuntos do condomínio. Comecei a receber inúmeras mensagens de moradores observando a obra e questionando se aquilo era permitido, que aquela bagunça não poderia ser permitida e assim por diante. No final do dia eram mais de vinte e oito mensagens de gente querendo fiscalizar o que se passava no terreno ao lado e pior, querendo que eu proibisse, pois afinal de contas estava levando poeira e fragmentos de alvenaria para dentro do nosso jardim.

Para todos eles eu respondi que estava tudo regularizado, e que eu tinha acompanhado tudo, que a área estava isolada, que não haveria riscos e que se algum dano acontecesse, eles eram responsáveis.

Hoje a parte da demolição acabou. Os operários da construtora vieram e consertaram tudo, limparam tudo e em pouco tempo tudo estava como antes. Mas aí eu me pergunto: como as pessoas pensam que uma obra acontece? O que os leva a crer que num serviço desse tipo é possível controlar efeitos como poeira e barulho? Minha conclusão é que alguns têm pré-disposição para mandar, outros querem ter o controle de tudo, outros são terrivelmente egoístas e não estão dispostos a ceder em nada para que outrem possa realizar alguma coisa que dependa de sua tolerância. E outros são apenas chatos de plantão.

Se um condomínio elege um síndico, será essa pessoa a representante por esse tipo de questão e não é necessário ficar incomodando o tempo todo para fiscalizar. Ou confia no síndico, ou não confia.

Martinha Silva é escritora, graduada em Administração, especialista em Gestão de Pessoas e gestora condominial em Itajaí.

 

Se você gostou do conteúdo, não esqueça de compartilhar:

Deixe o seu comentário

Ao comentar em nosso site você concorda com os nossos termos de uso

Para comentar você precisa estar autenticado.
Por favor, Faça login ou Registre-se

Nenhum comentário registrado

Está procurando Fornecedores?

Aqui você encontra

{{ termError }}