Crônica de uma síndica em apuros - Chamada na madrugada

Sabe aqueles dias em que ao abrir os olhos de manhã você sabe que nada vai prestar? Naquele dia eu abri os olhos às 05:45h da madrugada, o telefone chamava insistente. Desde que fui eleita síndica tomei a equivocada decisão de me colocar à disposição a qualquer horário e agora é tarde para alterar esse “costume”.
02 de maio 2019 | Atualizado em 12 de julho 2024

Sabe aqueles dias em que ao abrir os olhos de manhã você sabe que nada vai prestar? Naquele dia eu abri os olhos às 05:45h da madrugada, o telefone chamava insistente. Desde que fui eleita síndica tomei a equivocada decisão de me colocar à disposição a qualquer horário e agora é tarde para alterar esse “costume”.

Enfim, depois do meu “alô” sonolento (já não me assustava mais com as ligações no meio da noite), uma voz extremamente raivosa saiu pelo fone:

- Não tem água. Estou saindo de viagem e não tem água, como eu vou tomar banho? – falou debochada aquela voz que eu não conseguia me lembrar de quem seria.

Mesmo depois de tantos meses como síndica, ainda me impressionava o fato das pessoas dispensarem a educação para falar comigo. Não existia um “bom dia”, um “como vai” e muitas vezes as pessoas não se identificavam. Simplesmente achavam que eu deveria conhecer todos os moradores do condomínio, e olha que são 120 unidades.

Outro arrependimento que me bateu naquela hora, foi ter trocado a portaria humana pela remota. Pelo menos quando tinha um porteiro, era ele quem recebia as queixas.As reais e as infundadas.

- Bom dia! Qual é o seu bloco e apartamento? – tentei manter a calma.

- Sou a Benedita do 504 bloco B – disse ela impaciente – e já vou avisando que se eu perder o ônibus da minha excursão eu vou processar o condomínio.

- Já vou verificar e lhe dou retorno Dona Benedita – a mesma que no dia anterior recebeu queixas por causa de crianças fazendo baderna no elevador, tive que me esforçar para ser educada – agradeço por avisar.

Eu também sou do bloco B, então a primeira coisa que fiz foi confirmar a falta de água. Abri a torneira do banheiro, água. Abri a torneira na cozinha, água. Abri o chuveiro, água. Tudo normal.

Liguei para o zelador e relatei, pedi que viesse ao condomínio para verificar. Não sei se foi por preguiça ou por experiência, ele me disse que não “carecia” ir até o condomínio, era só abrir o registro do apartamento dela, pois provavelmente ontem os sobrinhos dela que a estavam visitando, devem ter fechado, “eles fizeram muita zoada no prédio” disse ele indignado.

- São uns pestes Dona Maria – completou ele.

Jurandir tinha razão. O registro estava fechado. Resolvemos tudo e ela conseguiu chegar a tempo para sua excursão, e é lógico que nem se deu ao trabalho de se desculpar ou agradecer.

Quando finalmente me sentei para tomar meu café da manhã, o interfone toca novamente:

- Sou do 502 do bloco B e quero registrar uma reclamação. Fui acordado antes das 6h da manhã por pessoas conversando alteradas no hall do meu andar. Acho isso um absurdo, hoje é o meu primeiro dia de férias e não admito não ter paz nem dentro do meu apartamento.

Eu só respirei e tentei lembrar de como era a vida antes de ser síndica!

Martinha Silva é graduada em Administração, especialista em Gestão de Pessoas, gestora condominial em Itajaí e escritora.

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