'Síndico do mundo' por duas semanas, diretor da Vila é argentino louco por esporte

Mario Cilenti trabalha há 21 anos, sem interrupção, na organização de Pan e Olimpíadas
É possível que nem um diplomata com alto cargo de relações internacionais na ONU tenha acumulado tamanha experiência e horas de reunião com tantos e tão diferentes países do mundo nos últimos anos quanto Mario Cilenti. Diretor da Vila Olímpica e de Relações com os comitês olímpicos nacionais da Rio-2016, o argentino de 46 anos comanda dois pontos nevrálgicos da organização da Olimpíada carioca: fazer funcionar o condomínio que mais se assemelha a uma pequena cidade (de números industriais como 18 mil travesseiros, 36 mil roupas de cama e mais de 600 mil itens de mobília em geral) e ouvir queixas, pedidos e anseios de duas centenas de delegações. Ao mesmo tempo, é uma espécie de síndico do mundo por duas semanas e ouvidor-geral, como a personificação de um SAC global.
Em sete anos, foram centenas de encontros com delegações, nos quais acumulou experiência para negociar com chineses e americanos, turcos e sírios, russos e ucranianos. Hoje, a Vila começa a receber os atletas, e apesar dos problemas de acabamento em centenas de unidades, Cilenti vê concluída parte de um trabalho ao qual se dedica desde a época da candidatura do Rio.
— Cada Vila tem uma característica diferente. Sydney era um bairro de casas. Atenas e Pequim eram prédios baixos. Londres misturava edifícios mais altos, de até oito, dez andares. Mas a Vila do Rio é a mais alta em que já trabalhei. Imagine a logística para subir toda a mobília pelos elevadores para os 17 andares do prédio. Foi um planejamento muito grande — diz o diretor. — Em Pequim, tinha que ser exatamente o que estava no papel. Aqui, um ajuda daqui, outro dali, e se encontra uma solução, mesmo se apelando ao famoso “jeitinho brasileiro”.
A Vila tem uma “prefeita” nomeada, a ex-jogadora de basquete Janeth Arcain, mas é Cilenti quem resolve tudo. Ele conta que, como os países têm liberdade de trazer o que quiserem e vêm com grande estrutura para os Jogos, não houve pedidos ou encomendas esdrúxulos como acontece em shows de rock, por exemplo.
— Muitas delegações trazem coisas que remetem ao seu país. O Canadá costuma trazer um alce gigante (animal típico do país). A Nova Zelândia sempre instala um totem referente aos povos nativos do país, deveremos ter surpresas também. A Vila fica enfeitada.
Nascido em Santa Fé, nadador amador na adolescência em Mar del Plata e jogador esporádico de vôlei e beisebol na infância vivida no Canadá, Cilenti é um argentino apaixonado por esportes, mas não gosta de futebol — sequer tem um time. Dedica-se integralmente à organização de grandes eventos esportivos desde os 25 anos, quando foi voluntário no Pan de Mar del Plata. Foi responsável por ajudar a delegação canadense, valendo-se do fato de ter morado dos 3 aos 14 anos em Toronto.
Voltou ao país para trabalhar no Pan de Winnipeg, em 1999, chefiou o time canadense no Pan de Santo Domingo (2003) e teve cargo de direção no Pan do Rio (2007). Trabalhou ainda em cinco Jogos Olímpicos antes do Rio.
— Acompanho o Rio desde o Pan. Para mim, a Olimpíada dar certo e os atletas se sentirem bem aqui têm um apelo pessoal. O grande diferencial do Rio é o calor humano — prevê Cilenti em seu português com sotaque argentino e recheado de palavras em inglês no meio das frases.
Matéria originalmente publicada em OGLOBO
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