O vento que sopra de cá, sopra de lá

Dia desses me deparei com uma postagem nas redes sociais de um advogado influente e conhecido se posicionando de maneira descontente, com a informação repassada por uma seguidora que participou de uma assembleia de eleição de síndicos, onde havia dez síndicos profissionais concorrendo para a vaga.
Em sua fala o advogado defende que a forma com que o condomínio prospectou interessados, como também conduziu o pleito para a vaga, foi desrespeitosa com a categoria. Não consigo discordar dele, porém questiono se essa situação não é um reflexo do posicionamento comercial dos colegas que atuam de forma profissional nesta função?
Em primeiro gostaria de refletir sobre o seguinte aspecto: a quantidade de oferta de especialistas na função, estranhos à massa condominial, em face da falta de voluntários entre o quadro de condôminos. Se é verdade que há algum tempo existe o esforço para que a função de síndico seja exercida de forma especializada e profissional, desmotivando muitas vezes o voluntariado “orgânico” com características ditas “amadoras” e insipientes inerentes à sindicatura. Parece que o momento chegou e estamos colhendo os frutos de um discurso defendido e promovido em todo anúncio de cursos de capacitação de “síndico profissional”.
Há tempos tenho percebido que, com o advento do marketing digital, com técnicas de persuasão fundamentadas em gatilhos mentais, como ambição e sucesso financeiro. A função de síndico de forma especializada tem sido propagada como a nova oportunidade profissional isenta de vocação e de propósito. Basta um curso, um certificado, um edital de convocação chamando para a eleição e a escolha dos desavisados para que a mágica aconteça. “Não há limites para ganhos”, diz o anúncio de um curso, “aprenda a conquistar dez ou mais condomínios em um ano”, diz o do outro.
Quem planta vento, colhe tempestade. Essa máxima é verdadeira e há tempos venho dizendo que o perfil do síndico do futuro, e a forma que o mercado olhará para ele está em nossas mãos. Neste momento estamos sendo comparados a motoristas de aplicativo, sem querer desprezar quem exerce essa profissão. Mas estamos vendo os condomínios interessados em ter um especialista representando os interesses de sua massa condominial atuando como o síndico, se comportando como usuários de aplicativos, abrindo o chamado da corrida e aguardando a oferta mais econômica. E está parecendo que não há escassez nesse processo.
Os ventos que hoje sopram de lá, um dia já sopraram de cá. Muitos colegas se aproximaram do exercício da função de síndico de forma profissional, motivados pela oferta de oportunidade de uma renda mensal fixa e garantida. Não que isso não seja íntegro e verdadeiro, mas não é o propósito que alicerça a decisão de dedicar-se ao exercício dessa função. O verdadeiro propósito é a transformação. Transformação que a sindicatura pode trazer a vida de quem a está exercendo, como as vidas a quem ela está servindo. É preciso formar síndicos com esse propósito para que o mercado nos olhe com o respeito que merecemos ser tratados.
Rogério de Freitas é graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Marketing e Gestão Empresarial e Síndico Profissional
Se você gostou do conteúdo, não esqueça de compartilhar:
Está procurando Fornecedores?
Aqui você encontra
Todos os direitos protegidos e reservados | Faça contato com a Redação
Deixe o seu comentário
Nenhum comentário registrado