Festa na quarentena

Por vezes desconfio que estou com sintomas de Covid-19, mas aí eu lembro que minha dor de cabeça é devido ao fato de ser síndica em tempos de quarentena. A coisa é séria e se alastrou depressa. Decretos, normas, opiniões, e eu trocando cartazes todos os dias, afinal as regras mudam a cada instante. Fechamos tudo logo no início, nem playground, nem salões de festa e nem academia. Os noticiários traziam notícias tenebrosas, da Itália e de outros países. Mas quem diz que brasileiro consegue ficar fechado em casa.
Na terceira semana, o Luisão do 704 Bloco B já argumentava sobre a necessidade de liberar a academia. Algumas mães pediram que liberasse o parquinho. Fico imaginando o que as crianças andam aprontando o dia todo em casa para que suas mães insistam em romper as regras. Regras que são para o bem de todos. Enfim, cada um tem sua razão.
Desde o começo me respaldei nos decretos estaduais e municipais. Porém, sempre tem aqueles que nos desarmam, trazem matérias tiradas não sei de onde, querendo provar que a máscara é prejudicial, vejam só, entre outras ideias estranhas. Tenho que fazer um malabarismo que nem meus inúmeros anos de síndica me prepararam. Mas o que aconteceu essa semana superou qualquer situação.
Um condômino novo resolveu dar uma festinha na sua unidade. É certo que dentro da unidade não temos interferência nenhuma. Foi chegando gente, chegando gente e o barulho aumentando. As ligações dos vizinhos para a portaria começaram a se tornar mais enfáticas. Até que alguém, não sei quem e prefiro não saber, fez denúncia na Vigilância Sanitária.
Resumo da história, pouco depois da meia-noite estávamos em umas trinta pessoas, entre convidados, vizinhos, funcionários, polícia, todos reunidos na entrada do condomínio. Os convidados meio alterados pelo álcool, sem máscara. Os vizinhos alterados pela revolta, com máscaras no queixo. Funcionários da portaria nervosos com medo que sobrasse pra eles. E eu lá, no meio de tudo muito indignada com a situação que jamais imaginei passar.
Tempos estranhos, opiniões diversas, egoísmo exacerbado, julgamentos aflorados. Medo, angustia e uma enorme sensação de inadequação. Mas tudo isso vai passar e logo voltarei a ter as velhas dores de cabeça dos velhos tempos.
Martinha Silva é escritora, graduada em Administração, especialista em Gestão de Pessoas e gestora condominial em Itajaí.
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