INVERNO

Prédios em regiões litorâneas sofrem com a umidade

Causadora de inúmeros danos em edificações, a umidade exige manutenções específicas
29 de julho 2015 | Atualizado em 12 de julho 2024

Entre as principais patologias causadas pela umidade estão as manchas, formação de bolor e o aparecimento de fissuras e trincas.

 

Causadora de inúmeros danos em edificações, a umidade exige manutenções específicas

Com a chegada do inverno, cidades litorâneas e próximas do mar, como Florianópolis, têm o aumento da umidade relativa do ar, principalmente em períodos de chuvas, e com isso são acentuados os problemas relacionados à umidade nas estruturas de residências e edifícios. “As fachadas voltadas para o Sul são mais afetadas pelo chamado ‘vento sul’, o que faz as paredes apresentarem coloração róseo-avermelhada, uma característica de bactérias que se fixam no reboco. Por essa razão, essas fachadas são as mais marcadas, não só pelas manchas pigmentadas, mas também por manchas de fungos (pretas) e, em alguns casos, até o contorno de vigas e pilares ficam mais evidentes”, explica Alexandre Chambarelli de Novaes, engenheiro civil e perito judicial.

Segundo o especialista, os prédios que estão nessa situação devem ter cuidados especiais desde a primeira pintura ou nas manutenções, utilizando um tipo de tinta própria (para fachadas, acrílicas, emborrachadas) e uma quantidade maior de camadas para proteger não somente os rebocos que revestem as fachadas, mas também as estruturas que são, geralmente, de concreto armado.

Para o arquiteto Ricardo Fonseca, os problemas que a umidade causa nas edificações são um grande desafio para a construção civil e acarretam inúmeras despesas para resolver as dificuldades buscando desde a recuperação dos danos até uma solução definitiva para evitar possíveis patologias. “Grande parte dos problemas enfrentados é decorrente da má execução dos projetos, impermeabilização mal feita da construção, e a utilização de materiais de baixa qualidade”, explica Fonseca.

Segundo o arquiteto, entre as principais patologias da umidade estão as manchas, formação de bolor ou mofo e aparecimento de fissuras e trincas. “O conhecimento e identificação das causas são fatores importantes na resolução e prevenção de problemas ainda maiores nas edificações”, diz.

Fissuras

As fissurações ou rachaduras, quando existem, abrem caminho para infiltrações, provocando manchas e bolor que prejudicam a saúde e também afetam a parte interna das unidades. “Essas fissuras e outras falhas devem ser tratadas de acordo com cada tipo. É importante investigar as causas, como a má composição na relação de água e cimento do reboco; movimentação estrutural; tinta de má qualidade, pintura mal aplicada ou falhas na preparação da base antes de receber a tinta”, esclarece o engenheiro Chambarelli.

E se os danos chegaram a atingir as armaduras e as ferragens, causando a expulsão do concreto que reveste as estruturas e os rebocos, com surgimento de manchas na cor de ferrugem, o engenheiro indica verificar a extensão do ataque às ferragens para ver se a cobertura de concreto é suficiente, se é possível aumentar, ou se será necessária a troca de ferragem. “Às vezes utilizam-se produtos ditos milagrosos e até de proteção para ferros expostos, grades, e que não servem para as peças internas em concreto armado. Esses produtos irão causar reações internas e proliferar a corrosão”, diz o especialista.

Segundo o perito, outro caso que costuma provocar umidade nas fachadas, pintura e na parte interna das unidades é a vedação inadequada das esquadrias, que podem ter falhas em seus perfis. “Em alguns casos, foi obtido êxito somente com a mudança ou adaptação de perfis de alumínio nas janelas”, explica. Ricardo orienta que, para resolver a umidade de paredes é necessário retirar a camada inicial de argamassa ou de cal da parede, que serve de base ao reboco, em uma faixa até 50 cm acima da mancha. Depois são feitos pequenos furos a cada 10 cm nos tijolos e injeta-se um produto à base de silicatos, composto de silício e oxigênio, que se infiltra na porosidade do tijolo e enrijece. Depois de seco, refaz-se o emboço (camada inicial de argamassa), de preferência com produtos impermeabilizantes misturados à massa de cimento e areia. “Se a parede for de blocos de concreto não é possível tratar definitivamente a umidade, apenas diminuí-la por curtos períodos, refazendo o emboço com argamassa impermeabilizante”, esclarece.

Umidade ascendente

Chambarelli explica que quando a umidade vem do terreno, o problema se intensifica em períodos chuvosos. O motivo mais comum é a falta de impermeabilização adequada das vigas de baldrame da fundação. Há outros elementos que podem contribuir para a umidade, como o contrapiso e em alguns casos, recomenda-se a sua impermeabilização, ou a drenagem superficial em torno da construção. “Essas técnicas são cuidados que devem ser feitos no início da obra, após esse momento, é necessário buscar alternativas de como remediar a situação. Para tanto, existem produtos para se combater a umidade ascendente na base e nos rebocos laterais, até mesmo uma drenagem se não for causar danos ao aterro e aos pisos. Quando a obra é executada em local mais baixo do que deveria, fica muito difícil e cara a solução”, esclarece.

Alexandre Chambarelli lembra que, em obras realizadas em cima de riachos ou terrenos alagadiços, onde autoridades municipais às vezes permitem as construções, em confronto com outras legislações ambientais, os condôminos podem reivindicar seus direitos junto à construtora e outros órgãos, pois muitas vezes a solução torna-se muito difícil ou muito onerosa.

Recuperação

Síndico do Condomínio Santa Martha, no bairro Trindade em Florianópolis, Daniel Cristiano Savenhago teve de lidar com diversos problemas causados pela umidade excessiva. Segundo Daniel, os problemas foram percebidos com o aparecimento de rachaduras, fissuras e reboco danificado. O edifício, que foi construído em um terreno úmido, conta ainda com um problema de escoamento das águas das chuvas oriundas do terreno localizado atrás do condomínio. Além disso, muitos apartamentos não possuíam impermeabilizações adequadas na área dos boxes dos banheiros, prejudicando assim as fachadas adjacentes e a estrutura do edifício.

De acordo com Daniel, a solução foi recuperar as superfícies danificadas. As áreas dos chuveiros foram impermeabilizadas, as rachaduras do reboco foram abertas e tratadas com fundo preparador e um impermeabilizante de superfície utilizado no tratamento contra salitre e mofo, e por fim, foi aplicada resina acrílica.

No caso das fissuras foi aplicado elastômero acrílico à base de água. Na recuperação estrutural das vigas, as ferragens expostas foram tratadas com anticorrosivo e para preenchimento de espaços vazios do concreto foi usado o método de grauteamento: um microconcreto fluido, usado para preencher as cavidades dos blocos onde são acomodadas as armaduras e as amarrações das paredes através de grampos.

Para reduzir a umidade do terreno foram instalados canos de drenagem, brita e mantas geotêxteis 100% poliéster. “Hoje trabalhamos com a manutenção preventiva, constantemente temos de avaliar as estruturas para que a umidade não cause danos recorrentes”, conclui o síndico.

Na prática

Erculis Neves, síndico do conjunto Habitacional Lauro Linhares, no bairro Trindade em Florianópolis, concorda que as infiltrações externas e internas são uma pedra no sapato de todo gestor de condomínio. “Florianópolis está situada próxima ao mar e com isso o clima se torna úmido e as infiltrações tendem a se avolumar, principalmente no inverno. Além disso, as chuvas e ventos castigam mais as paredes. Temos que estar sempre preparados para evitar problemas dessa natureza”, diz o síndico.

Após anos de experiência, Neves conclui que nem sempre o mais barato é a melhor opção para o problema. Ele destaca que é importante lembrar que se está executando um trabalho para ter um retorno de oito a dez anos aproximadamente e por isso a escolha do material a ser aplicado e a mão de obra é muito importante. “Quando fazemos contrato com empresas adotamos a sistemática de somente contratar a mão de obra, ficando a cargo do condomínio a aquisição dos materiais utilizados, pois só assim temos certeza de estar aplicando materiais de primeira linha. Também não fazemos pagamento adiantado, somente depois do serviço executado de acordo com os resultados”, ressalta.

O síndico relata que outro problema grave e que traz muitos aborrecimentos são os proprietários que não dão a devida atenção as suas unidades que estão com vazamentos em banheiros, cozinhas, pias, ralos, tanques e outros, causando danos ao condomínio e seus vizinhos. “Alguns quando são notificados ainda respondem que o problema não é de sua responsabilidade empurrando para que outros resolvam”, relata o síndico.

Erculis Neves diz que ao efetuar a pintura no condomínio, primeiramente é feita uma lavagem com produto adequado. Em caso de fissuras, por exemplo, recomenda o uso de elastômero para penetrar melhor nos orifícios e quando a trinca for grande a sugestão é grampear com ferro de construção e aplicar manta poliéster. “Também costumamos usar um fundo preparador tipo selador de boa qualidade, de preferência acrílico pigmentado e com aditivos. Pode ser usado também um selador de fundo preparador a base de solvente que atua como impermeabilizante e funciona como fixador de partículas quando o reboco está deteriorado”, sugere o síndico.

Publicado inicialmente em 29/07/2015

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