Sindicatura profissional é opção para quem busca transição de carreira

Crescente verticalização das cidades e aquecimento do mercado imobiliário abrem espaço para novas atividades; saiba prós e contras e como se capacitar para o cargo
A transição de carreira é um assunto que ganhou espaço nos últimos anos, e são muitos os fatores para que, cada vez mais, as pessoas busquem uma nova área de atuação. O sentimento de infelicidade no trabalho ou o desejo de ter um maior ganho financeiro são alguns dos principais. Uma função bastante cobiçada por quem cogita mudar o rumo é a sindicatura profissional.
A explicação está no crescimento do mercado imobiliário, que impulsionou a valorização do cargo por meio de salários bem atrativos, porém, o número de pessoas que se capacitam à função ainda é pequeno. De acordo com a Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (ABRASSP), o Brasil tem 420 mil síndicos, mas apenas 5,19% deles são profissionais.
Professor da FIA Business School, Marcelo Treff destaca quais as dicas que podem ser aplicadas para ajudar na transição de carreira, independentemente do trabalho atual e da área de atuação em que a pessoa deseja ingressar.
“Exercitar o autoconhecimento (autonomamente ou com ajuda de terceiros), para identificar seus talentos e limitações. Desenhar um plano de ação, para deixar claros os seus pensamentos e desejos, a fim de definir os objetivos e as oportunidades e analisar recursos necessários para a mudança. Mas, ainda assim, é necessário investir permanentemente em novos conhecimentos para se desenvolver profissional e pessoalmente. E, claro, estar alinhado às novas oportunidades”, destaca.
E não são poucas as pessoas que buscam outra profissão. Um recente estudo do LinkedIn, principal rede profissional, com mais de 800 milhões de usuários no mundo (53 milhões no Brasil), apontou que 49% dos brasileiros estavam dispostos a mudar de emprego em 2022, fosse para atuar na mesma área ou trocá-la. No entanto, muitos dos interessados em investir na transição de carreira ainda carregam medos, receios e, claro, inúmeros questionamentos. Um dos mais clássicos é: por onde começar?
“Um ponto importante é jamais considerar ser tarde demais para investir em outra carreira. Existem inúmeros exemplos de pessoas que mudaram de forma bem-sucedida após décadas em uma área de atuação. Comece repensando as prioridades profissionais. Depois, altere ou construa uma nova identidade profissional. Em seguida, explore as possibilidades, mas não envie currículos de forma aleatória. Desenvolva e fortaleça os relacionamentos com sua rede de contatos. Por fim, mude ou redirecione suas funções ou orientações”, explica o professor.
Principais motivos para a transição de carreira
A busca por salários melhores e possibilidades de crescimento profissional são, sem dúvida, alguns dos motivos que elevam o interesse pela mudança de área de atuação. Treff, que é mestre em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), relaciona o interesse na transição de carreira a vários outros fatores.
“Nos últimos anos, muitos profissionais têm pensado ou optado por transições de carreira em busca de novos desafios e, também, para equilibrar a vida pessoal e profissional, visando uma maior qualidade de vida e saúde mental. Outros motivos que levam a querer uma mudança são: perspectiva de desenvolvimento profissional, insatisfação com o conteúdo do trabalho realizado ou com a organização onde atua, questões financeiras e crises identitárias”, cita Treff.
Mas existe um momento ideal para se pensar em uma nova profissão? Há quem considere que a transição de carreira ocorre com maior frequência durante a crise da “meia idade”, período entre 40 e 50 anos. Outros apontam que essa mudança de área é mais comum com aposentados ou após uma demissão. Em virtude de grandes transformações nos últimos anos, porém, esse ajuste na rota profissional atinge todos os trabalhadores, independentemente de gênero, profissão ou idade.
“O que o que nos impulsiona para a mudança é a insatisfação ou a necessidade. É aí que a emoção fala mais alto que a razão. Eu diria que cada pessoa deve minimamente buscar seu ponto de equilíbrio para uma transição responsável. Não dá para se atirar totalmente no escuro numa nova área de trabalho, mas, também, muitas vezes não há o tempo necessário para levantar todos os prós e contras da nova profissão”, diz a psicóloga e mentora em transição de carreira Sandra Fernandes.
Como iniciar a sindicatura profissional
Embora não esteja no ranking dos empregos em alta para 2023, a sindicatura profissional atrai olhares daqueles que buscam a transição de carreira. A crescente verticalização das cidades e o aquecimento do mercado imobiliário dos últimos anos, por exemplo, abriram espaço para esses novos nichos de trabalho. Dessa maneira, aumentou a necessidade de ter pessoas aptas para gerir esses locais.
"Acima de tudo, a carreira de síndico profissional é para quem gosta de pessoas e tem como objetivo melhorar a sociedade em que está inserido. Não existe carreira fácil e nem mudança simples para um novo segmento, mas a sindicatura profissional não se limita a um perfil profissional, técnico ou de idade”, afirma o especialista em recursos humanos e advogado Ricardo Karpat.
Assim como outras profissões, muitos trabalhadores que atuavam em outras áreas migraram para a sindicatura. A intensa procura fez o cargo ganhar curso de capacitação em todo o país, que agora está presente até mesmo em universidades. Afinal, o síndico precisa saber assuntos específicos, como: Código Civil, direito de vizinhança, direito condominial, leis ambientais, gestão de pessoas, fluxo de caixa, comunicação, oratória e gestão de projetos.
“A pessoa que deseja se tornar síndico profissional precisa saber da responsabilidade que terá e sempre buscar conhecimento através de cursos que tragam conhecimentos técnicos e, também, o direcionamento necessário para o desempenho da função. A carreira de síndico profissional oferece altos ganhos financeiros, maior do que a maioria das profissões, por ser emergente e de fácil colocação no mercado, mas não é tão simples como muitos pensam”, completa Karpat que também é diretor da Gábor RH e referência nacional em administração de condomínios e em cursos de formação de síndico profissional.
Já a síndica profissional em Balneário Camboriú, professora e idealizadora do canal Síndicos de Coragem, no Instagram, Letícia Duarte, traça um perfil daqueles que já se capacitaram para o cargo.
"A maioria já atuava como síndico morador e encontrou a oportunidade de se realizar profissionalmente. Também tem pessoas que de algum modo já estavam envolvidas na gestão do condomínio, atuando como conselheiros ou subsíndicos. Ainda tenho observado um movimento de profissionais que já trabalharam em administradoras de condomínio, abrindo o seu próprio negócio profissional. Mas, acima de tudo, para ser síndico é necessário pré-disposição de estar em constante aprendizado, suportar pressões, saber liderar, ser proativo e comunicar-se com clareza", destaca Letícia.
Benefícios

A flexibilidade e a ampliação dos negócios, que podem aumentar o rendimento com cada vez mais clientes, são alguns dos benefícios que o mercado oferece para um síndico profissional. Na função há 15 anos, Sandra Fernandes vê isso como um importante fator para quem deseja realizar a transição de carreira e começar na sindicatura.
“Como síndico não é profissão, não tem conselho de classe ou prova de admissão, é mais fácil começar a trabalhar na área. O síndico pode atuar num único condomínio ou montar uma empresa para atender mais de 100 condomínios, na verdade o céu é o limite. O síndico também pode organizar seu horário de trabalho e definir seus rendimentos”, aponta a mentora em transição de carreira.
Já Letícia considera que entre os benefícios está o crescimento profissional. Para ela, o conhecimento necessário para o desempenho da sindicatura permite o desenvolvimento de habilidades importantes que contribuem para o amadurecimento.
“A sindicatura requer posicionamento de liderança, inteligência emocional e comprometimento em aprender sobre as rotinas e leis que envolvem o universo condominial. Isso dá uma maturidade muito grande sobre gestão e de vivência. Ainda vejo outros benefícios na profissão, como a possibilidade de trabalhar à distância por períodos pré-determinados, além de conexões pessoais muito ricas”, justifica.
Vantagens e desvantagens
Como toda profissão, a sindicatura tem os prós e os contras. Considerada uma carreira emergente e de fácil colocação no mercado de trabalho, o que resulta em bons rendimentos, a função é bastante desejada. Porém, é preciso saber as situações que serão enfrentadas no dia a dia, pois quando há algum problema no condomínio, todos recorrem ao síndico para a resolução rápida e, a maioria das vezes, de baixo orçamento.
“A principal vantagem é que existe um vasto mercado para trabalhar, mas, sem ilusões, a concorrência existe. Então é importante estar sempre preparado para receber muitos nãos em assembleias. A grande desvantagem é que muitos condôminos não dão valor ao trabalho do síndico e estão sempre em busca de redução de custos. Por isso, muitas vezes os síndicos são contratados por preço e não por competência. Além disso, é preciso trabalhar muito bem a questão da falta de reconhecimento e o preconceito que existe com a função”, explica Fernandes.
Envolvida na formação de síndicos profissionais, Letícia Duarte frisa bastante as vantagens e desvantagens durante os seus cursos. Ela, que também atua na sindicatura, lida com essas situações diariamente e está ciente da importância da preparação para a função, principalmente quando se trata de pessoas em transição de carreira ou que sequer tiveram algum tipo de contato com gestão condominial.
“É um mercado em pleno crescimento, com inúmeras oportunidades, e isso considero ser uma importante vantagem. O síndico também pode segmentar o perfil de condomínio que melhor se adapta as suas habilidades e, com isso, ter melhores resultados e maior felicidade naquilo que faz. Por fim, como outro ponto positivo, é uma área possível de conciliar com outra atividade. Já entre as desvantagens, que é essencial deixar bem claro, é preciso lidar com emergências ou demandas fora do horário comercial e ter disponibilidade de tempo quase que integral. Ainda tem situações envolvendo cobranças, insatisfações e reclamações, além da responsabilidade máxima, pois as tomadas de decisões nem sempre vão agradar. Tudo isso faz parte do dia a dia do síndico”, completa a síndica profissional.
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