A dolorosa lição da boate Kiss

Como profissional da área de Segurança Contra Incêndio, vejo-me na obrigação de trazer à pauta a tragédia causada naquele dia e prolongada em todos os que se seguiram, diante do incêndio ocorrido na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), há mais de uma década
Um cartaz foi fixado no local onde ficava a boate, com o seguinte questionamento: “Onde você estava no dia 27 de janeiro de 2013?” O caso foi tão marcante, que é comum falar sobre o tema com pessoas que não têm qualquer vínculo com as vítimas ou os familiares, e ouvir relatos de “eu lembro onde estava” quando soube do ocorrido, tão traumática foi a tragédia!
Os detalhes do caso, a sucessão de erros cometidos, os danos causados, a dor física e psicológica, é tudo tão absurdo que estudar esse incêndio se tornou uma das tarefas mais difíceis em minha formação.
A Netflix criou uma série que relata a história – ainda que de forma muito sutil, em respeito à comunidade, que já sofreu tanto... Foram 636 feridos e 242 vítimas fatais. “Todo dia a mesma noite” mostra com detalhes o que aconteceu antes, durante e depois, chegando aos dias de hoje, quando recém completamos 10 anos do incêndio que marcou não só a cidade de Santa Maria, mas a história e a memória de tantas famílias.
Mas como esse caso está ligado ao meu condomínio?
De todas as formas!
“O condomínio (em latim: condominium) ocorre quando existe o domínio de mais de uma pessoa simultaneamente de um determinado bem, ou partes de um bem”. Então, podemos entender que, se o domínio é de todos, o dever de manter também é, mas para gerir administrativamente temos a figura do síndico, o qual, com o apoio de um conselho constituído para representar os demais, tem a missão de manter a gestão condominial em dia.
Assim, a responsabilidade civil e criminal pela manutenção do condomínio (e consequentemente dos sistemas Preventivo Contra Incêndio – PCI) é do síndico, conforme previsto em legislação, por isso quando ouvimos “Pra que tudo isso?”, “Isso é um exagero!”, “Vou arrumar quando o bombeiro vier para a vistoria e depois volto como estava”, “Precisamos pintar o prédio primeiro”, “Isso é só pra gastar mais”, além de tristeza, essas falas geram revolta, pois quem já viveu uma história assim sabe muito bem da importância de cada medida, cada sistema, cada segundo, cada orientação que passamos buscando proteger as pessoas e as edificações.
No caso em questão, a retirada de extintores do local por questões estéticas, a instalação de espuma tóxica e inflamável, o show pirotécnico com dispositivos inadequados, a falta de procedimentos de evacuação, a superlotação, a falta de sinalizações e saídas de emergência, a liberação para funcionamento sem os devidos sistemas instalados em conformidade às normas, o impedimento da saída rápida das pessoas na hora do incêndio, entre tantos outros fatores, foram determinantes para agravar a ocorrência.
Diante da magnitude do sinistro, em novembro do mesmo ano, houve uma das mais importantes mudanças na legislação sobre o tema, quando o Corpo de Bombeiros passou a ter “poder de polícia”.
Absolutamente nada que se faça hoje trará aquelas vidas de volta, mas contribuir para que casos assim jamais voltem a acontecer é uma forma de abrandar o coração e ressignificar a dor de tantas famílias.
Não permita que seu condomínio sofra um sinistro... Previna-se! Salve vidas!
Néia Lehmkuhl é administradora, especialista pós-graduada em Gerenciamento de Projetos, pós-graduada em Gestão da Segurança Contra Incêndio e Pânico, pós-graduada em Gestão da Qualidade e gerente de Projetos na Portal Sul Energia.
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